Jorge de Sena - Génesis

 



De mim não falo mais: não quero nada.

De Deus não falo: não tem outro abrigo.

Não falarei também do mundo antigo,

pois nasce e morre em cada madrugada.

 

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,

para sentir o tempo andar comigo;

nem de viver, que é liberdade errada,

e foge todo o Amor quando o persigo.

 

Por mais justiça...  Ai quantos que eram novos

em vão a esperaram porque nunca a viram!

E a eternidade... Ó transfusão dos povos!

 

Não há verdade: o mundo não a esconde.

Tudo se vê: só se não sabe aonde.

Mortais ou imortais, todos mentiram.


      Jorge de Sena nasce na tradição literária de um certo rasgo revolucionário, contra as estruturas amorfas e repressivas do Estado Novo de António Salazar. Foi aluno de Rómulo de Carvalho, ou seja, António Gedeão.


Sem comentários:

Arquivo do blogue