quando dizemos amor
a palavra levita como uma pena
no regaço de uma brisa de verão
quando dizemos ódio
a palavra cai na terra e levanta pó
é como uma pedra
arremessada sem perdão
mas se dissermos silêncio
quem por nós erguerá tamanho peso?
é palavra tão sem medida
que mil braços humanos não chegariam
para levantá-la um milímetro que fosse
desse chão onde o ódio nos espatifa
queria uma grua que levantasse o silêncio
à altura do nosso amor
para que daqui onde me encontro
pudesse continuar a olhar-te
à distância de um sonho
onde fosse autêntico como um punhal
cada vocábulo
deste triste quadro
os teus lábios são um navio de esperança
a minha boca um porto de abrigo
e à deriva andamos ambos na ausência um do outro
enquanto reclamamos
de ser tudo como dantes:
tão indolente que parece quase morto
tão indolente que prece quase morto
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