Florbela Espanca



Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!

      O canto do rouxinol, tem sido descrito como um dos sons mais belos na natureza, inspirando canções, contos de fadas, óperas, livros e uma enorme quantidade de poesia. Escritores antigos afirmavam que era a fêmea que cantava, quando é de facto o macho a fazê-lo. Cantam de noite, e esse canto nocturno serve para atrair uma parceira.
      Talvez, por essa razão, o romântico inglês Percy Shelley escreveu: "Um poeta é um rouxinol que se senta na escuridão e canta sons doces para alegrar a sua própria solidão". É o caso de Florbela.

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