Clarice Lispector - Um sopro de vida




      "Não estou — espero — me julgando com excesso de imparcialidade. Mas preciso ser um pouco imparcial senão sucumbo e me enredo na minha forma patética de viver. Aliás fisicamente tenho algo de patético: meus olhos grandes são infantilmente interrogativos ao mesmo tempo em que parecem pedir alguma coisa e meus lábios estão sempre entreabertos como se fica diante de uma surpresa ou então como quando o ar que se respira pelo nariz é insuficiente e então se respira pela boca: ou então como ficam os lábios quando estão prestes a serem beijados. Eu sou, sem ter consciência disso, uma armadilha.
      Apesar de sagaz, não compreendo realmente o que está me acontecendo. E o mundo a exigir decisões para as quais não estou preparada. Decisões não só a respeito de provocar o nascimento de fatos mas também decisões sobre a melhor forma de se ser.
      Uma tensão de corda de violino."

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