A vizinha do número quatorze ria hoje da porta
De
onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.
Ria
naturalmente com a alma na cara.
Está
certo: é a vida.
A
dor não dura porque a dor não dura.
Está
certo.
Repito:
está certo.
Mas
o meu coração não está certo.
O
meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.
Cá
está a lição, ó alma da gente!
Se
a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,
Quem
se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?
Estou
só no mundo, como um peão de cair.
Posso
morrer como o orvalho seca.
Por
uma arte natural de natureza solar,
Posso
morrer à vontade da deslembrança,
Posso
morrer como ninguém...
Mas
isto dói,
Isto
é indecente para quem tem coração...
Isto...
Sim,
isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas...
Gloria?
Amor? O anseio de uma alma humana?
Apoteose
ás avessas...
Dêem-me
Agua de Vidago, que eu quero esquecer a Vida!
Sr Álvaro, basta iluminar a dor.
Sr Álvaro, basta iluminar a dor.
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