As crianças tristes
passam alegres no autocarro,
cantando
em altos berros e intrometendo-se com quem passa.
Vão todas ao Posto vacinar-se de graça.
A vacina é triste, as crianças são tristes,
mas passam todas, alegremente, no autocarro.
Os soldados tristes passam alegres no autocarro,
entoando as canções que cantavam nas romarias da sua terra.
Vão para o cais do embarque tomar o paquete que os levará para a guerra.
A guerra é triste, os soldados são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Os operários tristes passam alegremente no autocarro,
cantando e gesticulando com a garrafa de vinho na mão.
Vão todos para a fábrica vigiar as máquinas e carregar num botão.
A fábrica é triste, os operários são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Os camponeses tristes passam alegres no autocarro,
cantando e dando vivas ao longo do percurso.
Vão todos à cidade, de fato novo, aplaudir o discurso.
O discurso é triste, os camponeses são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Alegremente, no autocarro.
Vão todas ao Posto vacinar-se de graça.
A vacina é triste, as crianças são tristes,
mas passam todas, alegremente, no autocarro.
Os soldados tristes passam alegres no autocarro,
entoando as canções que cantavam nas romarias da sua terra.
Vão para o cais do embarque tomar o paquete que os levará para a guerra.
A guerra é triste, os soldados são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Os operários tristes passam alegremente no autocarro,
cantando e gesticulando com a garrafa de vinho na mão.
Vão todos para a fábrica vigiar as máquinas e carregar num botão.
A fábrica é triste, os operários são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Os camponeses tristes passam alegres no autocarro,
cantando e dando vivas ao longo do percurso.
Vão todos à cidade, de fato novo, aplaudir o discurso.
O discurso é triste, os camponeses são tristes,
mas passam todos, alegremente, no autocarro.
Alegremente, no autocarro.
A
essência do homem está na solidão, mas em grupo tendemos a esquecer essa
condição difícil e a fragilidade torna-se mais suportável. É pena é que de
grupos de autocarro tivéssemos passado às hidras modernas: à angustia dos
shoppings, às barracas das feiras, à alienação dos estádios, à poeira dos
concertos rock, à superficialidade dos media.
Dizem por aí, que não se sofre tanto.
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