Pedro Sevilla - O tempo

 


Era no espelho alto do toucador.


Minha mãe, muito jovem, quase adolescente,

os ombros despidos,

retoca o penteado

e pelo vidro olha para mim e sorri-me.


Pelo postigo aberto da janela azul,

borboleta amarela,

entra um raio de sol que lhe pousa no pescoço,

estremece um pouco e vai-se,

deixando queimaduras imperceptíveis.


Depois veio o incêndio dos anos.


      O poema reflete sobre a passagem temporal como força inevitável que molda e desgasta a existência. O poema articula memória e perda, revelando como o tempo tanto constrói quanto dissolve o vivido. Há uma tensão entre o desejo de permanência e a consciência da finitude, expressa em imagens simples e emotivas.


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