Irene Sánchez Carrón - Silhueta na janela

 



Que não saiba a rosa que a contemplas

nem saiba a água da tua sede.


Que as nuvens

não se sintam boiar

no azul profundo dos teus sonhos.


Que não saiba jamais o mar

que o teu ser palpita ao ritmo das ondas.


A montanha,

que não te ouça suspirar em seu peito.


O bosque,

que ignore que podia extraviar-te.


Que não saiba a terra como olhar

os seus frutos mais saborosos

e festejem os teus olhos a sua beleza

sem que ela saiba.


      O poema constrói uma cena de observação íntima e distanciada, onde a janela funciona como fronteira simbólica entre o eu e o mundo. A silhueta sugere ausência, anonimato e desejo contido, reforçando a fragilidade da identidade. Há uma dimensão de espera e clausura, próxima da solidão urbana.


Sem comentários:

Arquivo do blogue