Jorge Sousa Braga - As árvores e os livros

 


As árvores como os livros têm folhas

e margens lisas ou recortadas,

e capas (isto é copas) e capítulos

de flores e letras de oiro nas lombadas.


E são histórias de reis, histórias de fadas,

as mais fantásticas aventuras,

que se podem ler nas suas páginas,

no pecíolo, no limbo, nas nervuras.


As florestas são imensas bibliotecas,

e até há florestas especializadas,

com faias, bétulas e um letreiro

a dizer: «Floresta das zonas temperadas».


É evidente que não podes plantar

no teu quarto, plátanos ou azinheiras.

Para começar a construir uma biblioteca,

basta um vaso de sardinheiras.


      Que ideia feliz comparar um livro a uma árvore e, também, comparar uma biblioteca a uma floresta. Tive um professor que dizia "Criar com comparações é fácil. Se as retirarmos, tudo se transforma em metáforas e aí sim, a luz e a escuridão batem no texto." Na Coimbra dos anos 80, na Faculdade de Letras, nas aulas de Literatura Norte-Americana, do João Paulo Moreira.


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