Golgona - Olhe, preciso de dinheiro

 


Olhe, preciso de dinheiro.

Preciso de muito dinheiro. Quero abrir um negócio.

Algo meu, sabe como é. Estou farto de patrões.

Não posso passar a minha vida atrás de um balcão.

A levar todas as noites com a baba dos perdidos nas trombas.

Já não tenho paciência.

Com esta idade, já viu o que é.

Sujeitar-se a todos os labregos.

Já tentei noutros bancos, sim.

Pedi também aos meus pais, é verdade;

disse-lhes que era para me casar.

Não, não tenho casa, nem automóvel.

Mas, olhe, posso garantir com o meu corpo.

O meu fígado, senhor, tem que ver o meu fígado.

É fígado de motard. Isto parece encolhido e tal,

mas anda a mil.

E adiantado, não pode pagar nada como entrada?

Entrada, não sei.

Só se for o coração.


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