João Afonso - Morrer Em Zanzibar



As histórias que contavas lá da aldeia

a bola no telhado da vizinha

o branco no amarelo da eira e a calça sem bainha

A varanda e a calça sem bainha a semana

na baía a pesca à linha a vizinha,

o que querias da montanha.


Que pensamento querias da montanha

fugiste um dia p´ra Kilimanjaro

seria o jeito sábio dum cocoana

a falar sob um céu claro a marimba,

a falar sob um céu claro

a madeira, de pau preto um aparo

a montanha vou de boleia em boleia.


Agora vou de boleia em boleia

agora vou voltar a ser menino

parar, ouvir silêncios sobre a areia

visitar-te em S. Francisco

Sobre a areia, visitar-te em S. Francisco

lua cheia a subir tudo o que lembro

a gavinha, numa noite de Dezembro.


Deixaste o sol na praia de Inhambane

no cais da ponte o dia do vapor

amigos que p´ra longe a pátria bane

num retrato de esplendor

Ventoinha, num retrato de esplendor

cazuarina, quinino saga e calor

a cantina com o sabor ,o leitor

e fico com o sabor das leituras

percorro a vossa esteira pelo mar

com um baú de histórias de aventuras

vou morrer em Zanzibar.


    Uma nostalgia do Portugal colonial? Não.


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