Jaime Sabines - Para recuperar

 


Tem cada um, como a natureza, as suas estações, os seus ciclos de vida?

Em quinze ou vinte dias passa uma Primavera

e um Verão no fundo da alma,

e a seguir vem um dia violento que nos deixa

sem folhas, imóveis e frios.


Alma minha, colhedora do que semeio com o suor da minha fronte,

com o frio suor da minha fronte,

podes dizer-me a que horas nos encontramos,

e em que sítio deserto nos vamos ver?


O diabo não liga aos meus encontros

e faz tempo que Deus está surdo:

vem tu, alma minha, testemunha, dá-me

o que tens nas tuas mãos, que não te pertence,

o sorriso e as lágrimas.

Que vou eu fazer com isso? Nada.

Queria era deitar-te gasolina por cima de ti

e pegar-te fogo, alma minha.

Para recuperar.


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