Houve um tempo em que eu permitia que tudo me atingisse — cada
tempestade arrastava-me, cada vento desordenava os meus dias. Eu era terra sem
muralha, vulnerável ao caos deste mundo. Mas aprendi, à força, que nem tudo
merece resposta, que o silêncio pode ser mais valioso do que mil palavras e que
a calma é um tesouro raro, frequentemente saqueado por aqueles que não sabem
respeitá-la.
Levei anos para entender que não preciso abrir a porta para
quem chega a fazer barulho, que a paz não é apenas um refúgio, mas um
território que exige defesa. Hoje, escolho com precisão o que permito entrar na
minha vida — não por orgulho, mas por sobrevivência. Não é frieza, é sabedoria.
Porque aprendi, no mais duro dos caminhos, que nem todos merecem a versão de
mim que tanto me custou a reconstruir.
A tela é de Henri Lebasque, Le chapeau rose.
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