Francisco J.

 


      Houve um tempo em que eu permitia que tudo me atingisse — cada tempestade arrastava-me, cada vento desordenava os meus dias. Eu era terra sem muralha, vulnerável ao caos deste mundo. Mas aprendi, à força, que nem tudo merece resposta, que o silêncio pode ser mais valioso do que mil palavras e que a calma é um tesouro raro, frequentemente saqueado por aqueles que não sabem respeitá-la.

      Levei anos para entender que não preciso abrir a porta para quem chega a fazer barulho, que a paz não é apenas um refúgio, mas um território que exige defesa. Hoje, escolho com precisão o que permito entrar na minha vida — não por orgulho, mas por sobrevivência. Não é frieza, é sabedoria. Porque aprendi, no mais duro dos caminhos, que nem todos merecem a versão de mim que tanto me custou a reconstruir.

      A tela é de Henri Lebasque, Le chapeau rose.


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