Camilo Castelo Branco - Os meus amigos

 


Amigos cento e dez e talvez mais

Eu já contei! Vaidades que eu sentia.

Pensei que sobre a terra não havia

Mais ditoso mortal entre os mortais.


Amigos cento e dez, tão serviçais,

Tão zelosos das leis da cortesia,

Que eu, já farto de os ver, me escapulia,

Às suas curvaturas vertebrais.


Um dia adoeci profundamente,

Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente

Que não desfez os laços quase rotos.


Que vamos nós (diziam) lá fazer?

Se ele está cego, não nos pode ver...

Que cento e nove impávidos marotos!


      Acima, podemos ver o rosto de Camilo nas antigas notas portuguesas de Cem Escudos, que circularam até à chegada do Euro comunitário. Quanto ao conteúdo do soneto, sim, Camilo cegou e apenas Tomaz Ribeiro o ajudou.


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