Estão duas ugly sweaters na mesa ao fundo do café de Senhor
João – renas, flocos de neve, e aquele toque de lã sintética que arrepia não só
a pele, mas também o sentido estético mais indulgente. Feias? Sem margem para
dúvidas. Mas é uma fealdade deliberada, quase um pacto silencioso, como quem
reivindica o direito à incongruência sem explicações desnecessárias.
No concerto clássico do passado domingo, reparei numa
inovação particularmente ousada: um Pai Natal piscava o olho enquanto segurava
uma cerveja – uma representação que, admitamos, capta o verdadeiro espírito de
resistência da época. O proprietário, supõe-se, flutuava entre o entusiasmo
sazonal e o desconforto provocado pela fibra impiedosa.
Os ugly sweaters são, no fundo, uma declaração visual: "Atreve-te a julgar-me – eu já abracei o ridículo." São ironia tecida em lã, o
equivalente tricotado de um soneto em desafinação.
Talvez sejam a única peça de roupa onde a intenção suplanta o
resultado – um fenómeno que, pensando bem, define o Natal em toda a sua
gloriosa incoerência.
in, xilre
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