limpamos
o sujo do nosso vinil
com
a ilha nua que as mãos formam;
a
música não nos atinge; as metáforas
sabem
a mercúrio, os hábitos são ecos
de
delfim;
a
palavra reflecte o homem,
o
homem há muito que deixou
de
reflectir a palavra, desde que o vento
pediu
às nuvens que inventassem outra vez
o
amor, sem respeito pelas situações
adquiridas
ao abrigo das leis anteriores;
o
nosso amor antigo tem lascas,
o
desamor actual tem corrosão verde;
hoje
desapertamos todo o esforço do mundo
e
pelas mãos entramos no disco de vinil;
e
sempre que alguém se aperceber
de
um pequeno salto na agulha, somos nós
evitando
uma onda.
Certa vez, numa aula clara, um aluno disse-me "A culpa?! A culpa é da sua geração!" Este poema fez-me lembrar o Luís, que achava que desde Maio de 68 o mundo tinha perdido o melhor que tinha tido, tendo se tornado materialista, hedonista e relativista.
Sem comentários:
Enviar um comentário