Rainer Maria Rilke - Dia de Outono

 

Senhor: é tempo. Foi muito grande o verão.

Nos relógios de sol estiram as tuas sombras,

deixa que pelo prado os ventos vão.


Ordena aos últimos frutos que amadureçam,

dá-lhes do sul ainda mais dois dias,

apressa-os para a plenitude, vê se envias

ao vinho forte a última doçura.


Quem não tem casa agora, já não constrói nenhuma,

quem agora está só, vai ficar só, sombrio,

perder o sono, ler, escrever cartas a fio,

e a um ir e vir inquieto nas áleas se acostuma,

vagueando enquanto as folhas lá vão num rodopio.


   Tradução de Vasco Graça Moura


   Herbsttag


Herr: es ist Zeit. Der Sommer war sehr gross.

Leg deinen Schatten auf die Sonnenuhren,

und auf den Fluren lass die Winde los.


Befiehl den letzten Früchten voll zu sein;

gib ihnen noch zwei südlichere Tage,

dränge sie zur Vollendung hin und jage

die letzte Süsse in den schweren Wein.


Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.

Wer jetzt allein ist, wird es lange bleiben,

wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben

und wird in den Alleen hin und her

unruhig wandern, wenn die Blätter treiben.


      Dizia-se em Coimbra, que o germanista Paulo Quintela se emocionava quando recitava e explicava este poema aos alunos. Já no ano seguinte, alguns voltavam ao Anfiteatro V, para o ouvir de novo recitar. Hoje, que tenho 67 anos, percebo perfeitamente a razão.


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