Golgona Anghel

 


Floribunda, minha querida, vim desligar-te das máquinas.

Tens aqui duas bolachas e um sumo para o caminho.

Não havia de pêra como tu querias,

se bem que lá em cima (ou em baixo, conforme)

pouco importa.

Ouvi dizer que sobre a alma tens um calhau e

sobre o calhau um balde de tinta

que te pinta de pobre e te julga inútil.

Sempre foste um mau negócio.

Permaneces igual.

Estragaste o autoclismo cá do sítio

como estragavas os meus dias de folga.

Mas nada te toca.

Moldas em vão estas cruzes de espera.

Na apatia dos crepúsculos,

o Inverno inventa a tua última palavra.

Escuta.

É por ti que os grilos cantam

e a noite se prepara para regressar

no interior das gavetas.


      Floribunda é o nome cientifico de uma espécie de jasmim. No poema, alguém morreu. Talvez a personagem de um livro. A foto é da autora do poema. 

 

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