Carmen Martín Gaite - Beco sem saída

 

Já sei que não há saída,

mas deixai-me ir por aqui,

não me peçais para voltar.

Cravaram-se-me os olhos

e a carne,

e não posso voltar,

e não quero voltar.

Não me griteis que não há

saída,

julgando que eu não oiço,

que não entendo.

Vossas vozes tropeçam-me na crosta

e caem como cascas,

que eu piso ao andar.

Avanço sozinha e alegre

na exacta manhã

pelo meu próprio caminho

que encontrei

embora não haja saída.


      É assim que pensa um ateu. Há uma fase, ou várias fases da vida, em que a razão nos mata Deus, mas a emoção continua-nos a pedir o mapa do poço da mulher samaritana. E no meio do deserto, lá está ele para bebermos. 


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