Se eu nunca disse que os teus dentes
são pérolas, é porque são dentes.
Se eu nunca disse que os teus lábios
são corais, é porque são lábios.
Se eu nunca disse que os teus olhos
são de ónix, ou esmeralda ou safira,
é porque são olhos.
Pérolas e ónix e corais são coisas,
e coisas não sublimam coisas.
Eu, se algum dia com lugares-comuns
houvesse de louvar-te,
decerto buscava na poesia,
na paisagem, na música,
imagens transcendentes
dos olhos e dos lábios e dos dentes.
Mas crê, sinceramente crê,
que todas as metáforas são pouco
para dizer o que eu vejo.
E vejo olhos, lábios e dentes.
Reinaldo
Ferreira e um dos poemas de amor mais belos escritos em Língua portuguesa. A desconstrução das metáforas como tema, quando os versos se tornam lugar secundário na presença da beleza real.
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