Rosa Lobato de Faria – Quem me quiser

 


Quem me quiser há-de saber as conchas

a cantigas dos búzios e do mar.

Quem me quiser há-de saber as ondas

e a verde tentação de naufragar.


Quem me quiser há-de saber as fontes,

a laranjeira em flor, a cor do feno,

à saudade lilás que há nos poentes,

o cheiro de maçãs que há no inverno.


Quem me quiser há-de saber a chuva

que põe colares de pérolas nos ombros

há-de saber os beijos e as uvas

há-de saber as asas e os pombos.


Quem me quiser há-de saber os medos

que passam nos abismos infinitos

a nudez clamorosa dos meus dedos

o salmo penitente dos meus gritos.


Quem me quiser há-de saber a espuma

em que sou turbilhão, subitamente

- Ou então não saber a coisa nenhuma

e embalar-me ao peito, simplesmente.


      in, A noite inteira já não chega

      Mulher inteira, onde o detalhe está em quem ela quer. O eu quero querer e escolher no feminino. Admiro a interpretação bem pontuada, pausada nos momentos corretos. Obrigado por este momento tão bonito.


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