A autoridade suprema, para um tradutor, deveria ser o estilo pessoal do autor. Mas a maior parte dos tradutores obedecem a uma outra autoridade: à do estilo comum do «bom francês» (do bom alemão, do bom inglês, etc.), a saber, do francês (do alemão, etc.) como é aprendido no liceu. O tradutor considera-se como o embaixador dessa autoridade junto do autor estrangeiro. Tal é o erro: todo o autor de certo valor transgride o «belo estilo» e é nessa transgressão que se encontra a originalidade (e, portanto, a razão de ser) da sua arte. O primeiro esforço do tradutor deveria ser a compreensão desta transgressão. O que não é difícil quando ela é evidente, como, por exemplo, em Rabelais, em Joyce, em Céline. Mas há autores cuja transgressão do «belo estilo» é delicada, pouco visível, oculta, discreta; neste caso, não é fácil apreendê-la. O que não impede que ela seja ainda mais importante por isso.
in, Os Testamentos Traídos
Traduzir bem é arte difícil, mas muito interessante. Por
vezes, há dez adjetivos possíveis para o do texto original. Há dez advérbios. Fazer a avaliação da palavra adequada é exercício
maior. Por isso, considero este texto tão interessante.
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