Vicente Augusto de Carvalho



"Deixa-me, fonte!" Dizia

A flor, tonta de terror.

E a fonte, sonora e fria,

Cantava, levando a flor.


"Deixa-me, deixa-me, fonte!

" Dizia a flor a chorar:

"Eu fui nascida no monte...

"Não me leves para o mar".


E a fonte, rápida e fria,

Com um sussurro zombador,

Por sobre a areia corria,

Corria levando a flor.


"Ai, balanços do meu galho,

"Balanços do berço meu;

"Ai, claras gotas de orvalho

"Caídas do azul do céu!...


Chorava a flor, e gemia,

Branca, branca de terror,

E a fonte, sonora e fria

Rolava levando a flor.


"Adeus, sombra das ramadas,

"Cantigas do rouxinol;

"Ai, festa das madrugadas,

"Doçuras do pôr do sol;


"Carícia das brisas leves

"Que abrem rasgões de luar...

"Fonte, fonte, não me leves,

"Não me leves para o mar!..."


As correntezas da vida

E os restos do meu amor

Resvalam numa descida

Como a da fonte e da flor...


     Que poema tão belo, tão nosso.

 

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