Do amor não quero nada além do início, nas praças da minha
Granada
as pombas remendam as vestes do dia.
As jarras estão cheias de vinho para a festa depois da nossa
partida.
Sobram muitas janelas nas canções para explodir a flor de
granada
Deixo o jasmim no vaso, deixo o meu coração pequeno
no armário da minha mãe, deixo o meu sonho rindo na água,
deixo a aurora no mel do figo, deixo o meu dia e anoiteço
na senda até a Praça da Laranja onde as pombas revoam.
Teria sido eu quem desceu até os seus pés para erguer a fala?
Lua branca no leite das suas noites... bate o vento
e eu vejo a rua azul da flauta... bate a tarde
e eu vejo como adoece entre nós o mármore.
As janelas abandonaram os pomares do seu xale. Em outro
tempo eu sabia muito sobre ti, colhia gardénias
dos teus dedos. Em outro tempo obtinha pérolas
torneando o teu colo, e um nome num anel por onde iluminava o
escuro.
Do amor não quero nada além do início, as pombas voaram
acima da última esfera do céu, as pombas voaram, revoaram.
Restará muito vinho nas jarras, depois da nossa partida,
basta bem pouca terra para nos encontrar e se dar a paz.
Mahmud Darwish viveu entre 1942-2008, foi poeta e escritor palestiniano. Nasceu num vilarejo na Galileia, e durante a infância, essa vila árabe foi inteiramente arrasada pelas forças israelitas, durante a guerra de 1948. A família Darwish refugiou-se no Líbano, onde permaneceu por um ano, e, ao retornar clandestinamente descobriu que o lugar onde viveram havia sido substituído pelo colonato agrícola judaico de Ahihud.
Darwish é o autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida pelo líder palestino Iasser Arafat, quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino. Darwish é também considerado o poeta nacional da Palestina. Na sua obra, a Palestina aparece como metáfora do "paraíso perdido", nascimento e ressurreição.
Quanto ao poema, ele surge em, Beneath My Olive Tree with Lorca, um trabalho dedicado ao poeta da Andaluzia.
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