Um homem não tem tempo na sua vida
para ter tempo para tudo.
Não tem estações que cheguem para ter
uma estação para cada fim. O Livro do Eclesiastes
enganou-se a esse respeito.
Um homem precisa de amar e odiar ao mesmo tempo,
de rir e chorar com os mesmos olhos,
de atirar pedras e apanhá-las com as mesmas mãos,
de fazer amor na guerra e guerra no amor.
E de odiar e perdoar e recordar e esquecer,
de organizar e confundir, de comer e digerir
o que a história
demora anos e anos a fazer.
Um homem não tem tempo.
Quando perde procura, quando encontra
esquece, quando esquece ama, quando ama
começa a esquecer.
E a sua alma é experimentada, a sua alma
é profissionalíssima.
Só o corpo se mantém para sempre
um amador. Que tenta e falha,
desnorteando-se, sem aprender nada,
ébrio e cego nos seus prazeres
e dores.
Morrerá como morrem os figos no Outono,
engelhado e repleto de si mesmo e doce,
com as folhas a ressequirem no chão,
e os ramos nus a apontarem para o lugar
onde há tempo para tudo.
Shakespeare
escreveu em Henrique IV, "o pensamento é escravo da vida, e a vida é o bobo do
tempo". Neste último, de pouco vale ao bobo separar Deus do Diabo, porque na maior parte das vezes vivem juntos. O Cristianismo, neste caso o Eclesiastes, apenas separa os opostos por razões pedagógicas.
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