Nuno Júdice - Enigma Ornitológico

 


Um pássaro entrou numa nuvem.

Uma nuvem entrou num pássaro.

«Qual a verdade?», perguntou o homem.

«Está no pássaro? Ou

está numa nuvem?»

E enquanto

o homem procurava a resposta,

o pássaro saiu da nuvem, fazendo

com que a verdade saísse do homem.


      A verdade só o é até deixar de o ser para mais tarde regressar.

7 comentários:

Anónimo disse...

"A verdade só o é até deixar de o ser para mais tarde regressar."

Consultei tratados, bati com a cabeça em dicionários, mas em vão, para decifrar tão enigmática frase.

Talvez tenha sentido se em vez de verdade se escrevesse modas. Ou a palavra opiniões.

Ou então deve andar pelas ruas da amargura a tal dita verdade.

António de Figueiredo Nunes disse...

Aqui tem razão. Quando a verdade depende da mentalidade da época é uma moda. Deus tem sido uma moda, o poder tem sido moda, a arte uma moda, o povo tem sido uma moda. O único problema da verdade é que tem de ser perfeita e nenhum de nós ainda viu Deus face-a-face.

Obrigado por participar.

Anónimo disse...

Mas, caro senhor e querido amigo, para quê relacionar a verdade com Deus ou deuses?

A verdade é um conceito enquadrável no âmbito da ciência. E, mesmo assim, impõe-se alguma prudência.

Na religião, na arte, na filosofia, na moral, no amor, não existe a verdade. Mas intuições, medos, interesses, atrações, impulsos, instintos, necessidade de ordem social.

António de Figueiredo Nunes disse...

Jesus disse "Eu sou a Verdade". Se não acreditarmos num Deus absoluto, não nos vale a pena acreditar nele.

"Na religião, na arte, na filosofia, na moral, no amor, não existe a verdade. Mas intuições, medos, interesses, atrações, impulsos, instintos, necessidade de ordem social." Essa é apenas uma perspetiva que interessa ao relativismo. O homem quer ter convicções fortes.

Anónimo disse...

Sim, ele quer ter. Mas do querer ao ser, há a distância do abismo.

Por outro lado, as convicções fortes levam ao fundamentalismo e ao terrorismo.

Duvido que quem leia bem Alberto Caeiro não aprenda a olhar as coisas e a vida com uma serenidade e uma aceitação pacífica do efémero, do relativo, da brevidade das coisas e da vida.

António de Figueiredo Nunes disse...

Não podemos destruir as nossas convicções maiores. Elas são os pilares da vida: o amor, a amizade, a família, o sofrimento, o prazer, a arte, a espiritualidade, a lei, a pátria. Nenhum deles conduz ao fundamentalismo ou terrorismo. Se conduz é por má formação.

É por isso que não celebro o Sr. Caeiro. Faz-me mal.

Anónimo disse...

Gostaria de partilhar as suas convicções. Já foram minhas. Agora não são.
O amor é um sentimento tão frágil que se multiplica em diversas direções ao longo da vida, sempre com a mesma ladainha.
A família, outra estrutura que anda pelas ruas da amargura. Veja-se como abandonamos uma, duas, tantas famílias quantas as necessárias em função dos nossos impulsos.
O prazer é um instinto animal e pouco mais: talvez às vezes uma comichão interior.
A lei? mas qual? Se há tantas de acordo com os interesses dos grupos.
A pátria foi uma invenção dos poderosos. Em seu nome, como de um deus ou de outra fé qualquer, os poderosos, reis, magnatas, impõem os seus interesses sobre os outros
Quanto ao sofrimento, todo o ser vivo saudável o evita.
Releia Alberto Caeiro, com humildade. Também pode ler o Eclesiastes. a lição é a mesma.

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