Gonçalo M. Tavares - Palavras, actos

 


A ironia ensina a sabotar uma frase

como se faz a um motor de automóvel:

Se retirares uma peça a máquina não anda, se mexeres

no verbo ou numa letra do substantivo

a frase trágica torna-se divertida,

e a divertida, trágica.

Este quase instinto de rasteirar as frases protegeu-me,

desde novo, daquilo que ainda hoje receio: transformar

a linguagem num Deus que salve, e cada frase num anjo

portador da verdade. Tirar seriedade ao acto da escrita

aprendi-o na infância, tirar seriedade aos actos da vida

comecei a aprender apenas depois de sair dela, e espero

envelhecer aperfeiçoando esta desilusão.


      As palavras, que organizam ideias, balançam entre a razão e a emoção, dependendo da sua utilidade. Texto muito bem escrito.

3 comentários:

  1. "Tirar seriedade ao ato da escrita aprendi-o na infância, tirar seriedade aos atos da vida comecei a aprender apenas depois de sair dela."

    Sair dela? De onde? Da vida? Da seriedade? Da infância?
    Se se tira seriedade à escrita, o que é que fica? Diversão?

    Não concordo que seja um texto bem escrito. Confuso e com ideias contraditórias.

    ResponderEliminar
  2. Reparo, meu caro senhor, que é avesso a comentários.
    E faz muito bem.
    De comentários, opiniões, palavras, mesmo que poéticas, está este mundo cheio.
    Diria mesmo a transbordar de tanto lixo vocabular.
    Feliz o tempo em que havia dois ou três livros, que nem eram lidos mas transmitidos oralmente, ao lume das lareiras.
    Agora asfixiamos com tanta literatura ou literatice.
    Meu caro senhor, elimine o espaço para comentários e não nos peça interpretações.

    ResponderEliminar
  3. António de Figueiredo Nunes30 de março de 2021 às 15:27

    Não, não sou avesso a comentários, eu simplesmente não estou habituado a eles. E por não estar habituado, não reparei neles. Sabe que este blogue tem por natureza uma caminhada solitária. Como não gosto do "entertainment" moderno, tipo Vasco Palmeirim, Teresa Guilherme ou Fernando Mendes... entretenho-me à minha maneira. Meia-hora por dia é para aqui.

    "De comentários, opiniões, palavras, mesmo que poéticas, está este mundo cheio." Não, uma palavra bela é sempre uma palavra bela. Como se ouvia num certo filme "Tu podes mudar o mundo com um verso" Apesar da fúria do relativismo, ainda acredito nisto.

    "Agora asfixiamos com tanta literatura ou literatice." Como diz um amigo meu, que cita outro amigo, "Muitos são os chamados, poucos os escolhidos". Eu seguro o funil.

    Quanto ao resto sinto que faz muitas perguntas. Não é mau. "Não concordo que seja um texto bem escrito. Confuso e com ideias contraditórias." É apenas um poema diferente. Tente ler de novo, olhe que o livro onde o poema vem inserido ganhou um prémio literário.

    ResponderEliminar