Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Não creias, Lídia, que nenhum estio

Por nós perdido possa regressar

Oferecendo a flor

Que adiámos colher.

 

Cada dia te é dado uma só vez

E no redondo círculo da noite

Não existe piedade

Para aquele que hesita.

 

Mais tarde será tarde e já é tarde.

O tempo apaga tudo menos esse

Longo indelével rasto

Que o não-vivido deixa.

 

Não creias na demora em que te medes.

Jamais se detém Kronos cujo passo

Vai sempre mais à frente

Do que o teu próprio passo.

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