Há o poeta que escreve
contra todos. Há o poeta que escreve só para alguns. Há o poeta que escreve mas
escreve para a gaveta. Há o poeta que escreve e agrada a todos. Há o poeta que
escreve e não agrada a ninguém. E há, também, o poeta que escreve para agradar
a todos, seja de que forma for, ora mais telúrico ora mais onírico ora mais
realista ora mais como o freguês quiser. Este tipo de poeta é o poeta que salta
do jogo floral para o festival, do festival para o encontro, do encontro para a
bienal, da bienal para a mesa redonda, da mesa redonda para a mesa do salão de
chá, da mesa do salão de chá para o balcão da tasca, do balcão da tasca para o
anfiteatro, do anfiteatro para o mercado municipal e assim sucessivamente até
conseguir ser publicado por alguém. É um poeta sem bandeira. Ou melhor: é um
poeta com várias bandeiras no bolso, que vai hasteando à medida das suas
necessidades, mas, principalmente, à medida das necessidades dos outros que
passam a ser suas também. É o poeta molusco, sem espinha ou outro tipo de
estrutura que o faça andar na vertical. A horizontalidade rente ao chão é a sua
real natureza.
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