arrancaram-nos o baloiço do jardim;
se calhar já estamos crescidos
o espelho pende como um rosto do bico da pega
aquela que sujava o chão da cozinha,
picava as pernas das raparigas e roubava anéis de
ouro nos dias de chuva
a pega morreu há muitos anos, nunca a conhecemos.
só lá está o terraço e uma videira muito velhinha.
não sei porque nos arrancaram o baloiço do jardim, agora que passaram
os Santos e o Natal se aproxima
os Santos e o Natal se aproxima
o outro lado do espelho fala de dois miúdos a
espreitar;
os olhos redondos a conquistar os leões entre a
música de circo
tudo vemelho amarelo e azul com serpentinas e o
calor do riso dos pais.
do lado de cá já se envergam chapeuzinhos de tédio
com véus
de pés-de-galinha
a esperança nos faróis dos carros às cinco da
tarde, já noite pelo inverno
e o pai que se atrasava a ir buscar-nos à
catequese ou à ginástica.
"ainda não é aquele, que o Wolkswagen tem uns
faróis redondinhos"
como os nossos olhos sem expressão a fitar os
buracos que restam na terra
do jardim.
não sei porque nos arrancaram o baloiço
Sem comentários:
Enviar um comentário