"A arte de ler é, em
muitas maneiras, contrária à arte de escrever. Ler é um ofício que enriquece o
texto concebido pelo autor, aprofundando-o e tornando-o mais complexo,
concentrando-o para que reflicta a experiência pessoal do leitor e expandindo-o
para que alcance os mais longínquos confins do universo do leitor e mais além.
Escrever, ao invés, é a arte da resignação. O escritor tem de aceitar o facto
de que o texto final não será mais do que um reflexo turvo da obra que
concebera na mente, menos iluminado, menos subtil, menos pungente, menos
preciso. A imaginação de um escritor é todo-poderosa e capaz de sonhar as
criações mais extraordinárias em toda a sua desejada perfeição. Depois, vem a
descida à linguagem e, na passagem do pensamento à expressão, muito –
muitíssimo – se perde. Quase não há excepções a esta regra. Escrever um livro é
resignarmo-nos a falhar, por muito honroso que seja esse falhanço."
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