Usher inventou poemas de levar água à boca. Um vidraceiro,
séculos mais tarde, chamou-lhes copos, mas o carácter lírico de um objecto
daqueles mantém-se com a mesma persistência da sede. E, de cada vez que levamos
à boca um copo de água, há ali uma espécie de poema: sabemos que a água não tem
sabor e, no entanto, não há líquido que sacie da mesma maneira. Usher sabia que
o vazio que a água contém, algo tão neutro como uma página branca, tinha, em
si, o mesmo potencial: a ideia de tudo, a possibilidade de ser tudo.
Disse-o: O poema de levar água à boca encerra todo o espaço e
todo o tempo possíveis.
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