Renata Correia Botelho


Tirou então o creme e olhou em frente.

Depois do trapézio, a vida concedera-lhe
palavras poucas, um espelho,
uma mala gasta onde arrumar as dores.

Primeiro cobriu a testa, da esquerda
para a direita, com a mestria de um cego
que tacteia o seu nome no escuro.
Os olhos e os lábios em seguida,
até nada restar de voo sobre a pele.

O céu poente abrigava um bater de asas,
cortando de penas aquele silêncio crepuscular.

E nós assistíamos, sem rede,
ao sorriso primeiro do mimo.

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