Goliarda Sapienza

– Não! É inútil evitares-me.
– Eu não te evito, Carlo!
– Evitas-me! E, no entanto, temos de falar , como antes quiseste falar tanto, em vez de me amares como eu te amava.
– E como devia eu amar-te, Carlo? Em silêncio, deixando-me adorar como uma estátua?
– Mas o amor é mistério, silêncio. Em silêncio eu venerava-te. Bastava-me olhar para ti para ser feliz dias a fio. Não precisava de falar. O amor é um milagre e, como tal…
– O amor não é um milagre, Carlo, é uma arte, um ofício, um exercício da mente e dos sentidos como outro qualquer. Como tocar um instrumento, dançar, fabricar uma mesa.
– Tu queres dizer o sexo.
– E não é amor, o sexo? O amor e o sexo são filhos um do outro. O que é o amor sem sexo? Uma veneração de estátuas, de Virgens. O que é o sexo sem o amor? Apenas uma batalha de orgãos genitais.
– Mas então tu negas a substância imaterial do amor? Negas a sua espontaneidade e o facto de ser mais autêntico, puro, milagroso, quanto mais nascer espontâneo.


in, A Arte da Alegria

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