Bob Dylan's Nobel Prize for Literature



      Ao longo de todos estes anos Bob Dylan tem sido sempre polémico: se uns afirmavam que ele cantava mal, outros realçavam "Ninguém canta como Bob Dylan"; se mantinham a acusação de que tinha traído a "Old Left", outros achavam que ele tinha traído "The Right Wing"; tempos houve em que Nashville criticava "Dylan não é um folksinger, é um rocker"; na CBS exigiam-lhe "a melodia é bonita, mas não pode cortar metade da canção?", até João Paulo II chegou a dizer "o cantor Bob Dylan que recusou a autoridade, aceita agora a autoridade de Deus."
      Hoje, ao ser-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura ouve-se, e lê-se, outro conjunto de contradições: "a cultura americana é popular e estes prémios pertencem a outro registo de cultura"; "música é música, literatura é literatura"; "Borges não recebeu e Dylan recebe?"; o "ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção" é falso, ele é só um continuador, ou "Bob Dylan não é Dylan Thomas".

       As contradições são constantes, mesmo na análise dos seus textos. Repare-se na canção Like a Rolling Stone. Há quem a descreva como "versos que mostram compaixão por aqueles que foram expulsos da burguesia"; outros afirmam que "o poema é sobre a perda da inocência com impreparação para a dureza da vida". 
Depois, há quem ateste que a canção é sobre a actriz Edie Sedgwick, do clã Andy Warhol, numa redução biografica. Ninguém se entende. 
      O próprio Dylan observou, após o seu acidente de moto em 1966, que "quando eu usei palavras como 'ele' e 'ela' e 'eles', e falava sobre outras pessoas, eu estava realmente a falar de ninguém além de mim". Ou seja, a canção pode ser sobre ele mesmo. 
      Também sobre a canção e numa entrevista no estúdio de televisão KQED em 3 de dezembro de 1965, uma repórter perguntou-lhe: "Afinal, você quer mudar vida das pessoas? Ou quer apontar-lhes o erro nos caminhos?" Rindo, Dylan respondeu: "Quero irritá-las!". Convido-o,a agora, a ler o texto e a encontrar também uma interpretação.


Uma versão simples para seguir a leitura dos versos.

Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn't you?
People'd call, say "Beware doll, you're bound to fall"
You thought they were all kiddin' you
You used to laugh about
Everybody that was hangin' out
Now you don't talk so loud
Now you don't seem so proud
About having to be scrounging for your next meal

How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

You've gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody has ever taught you how to live on the street
And now you find out you're gonna have to get used to it
You said you'd never compromise
With the mystery tramp, but now you realize
He's not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And ask him do you want to make a deal?

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all did tricks for you
You never understood that it ain't no good
You shouldn't let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain't it hard when you discover that
He really wasn't where it's at
After he took from you everything he could steal

Princess on the steeple and all the pretty people
They're drinkin', thinkin' that they got it made
Exchanging all kinds of precious gifts and things
But you'd better lift your diamond ring you'd better pawn it babe
You used to be so amused
At Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can't refuse
When you got nothing, you got nothing to lose
You're invisible now you got no secrets to conceal

   Tradução caseira: 

Houve uma época em que te vestias à fina
e atiravas aos mendigos uma moeda do alto do teu orgulho, não era?
As pessoas chamavam-te e diziam "Tenha cuidado minha senhora, a vida boa pode acabar."
Tu pensavas que eles estavam a brincar contigo
e costumavas até rir deles
ao achares que era gente que estava a desperdiçar o tempo.
Só que, tu agora não falas tão alto,
agora tu não pareces tão orgulhosa
a respeito de teres de vasculhar a pobreza para comeres a tua próxima refeição.

Qual é a sensação,
como é que é sentir
o estares na vida sem abrigo
Como um perfeito desconhecido,
como uma pedra rolante?

Tu frequentaste os melhores colégios, não é, Menina Solitária
mas sabes bem que só te habituaste a ser espremida neles
e ninguém te ensinou a ser sem abrigo
E agora descobres que vais ter de te acostumar a isso
tu que disseste que nunca te comprometerias
com o mendigo misterioso, mas agora percebes
que ele não te está a vender nenhum álibi
Enquanto tu olhas para dentro do vazio dos seus olhos
e perguntas-lhe: "Quer fazer um acordo? "

Qual é a sensação,
como é que é sentir
estares na vida por conta própria
sem um rumo para casa
Como um perfeito desconhecido
como uma pedra rolante?

Tu nunca te voltaste para ver o olhar carrancudo dos malabaristas e palhaços
quando eles todos faziam truques para ti
Tu nunca compreendeste que não é bom
permitir que outras pessoas levassem pontapés em teu lugar
Tu costumavas andar num cavalo cromado com o teu diplomata
que carregava nos ombros um gato siamês
Não é duro quando descobres que
ele realmente não estava onde está
após tirar-te tudo o que te podia roubar?

A princesa na torre e todas as pessoas bonitas
estão brindar, pensando que já têm a vida ganha
trocando todos os tipos de presentes e coisas valiosas
Mas seria melhor tirares dali o teu anel de diamante
Seria melhor penhorá-lo, minha amiga
Tu costumavas ficar tão divertida
a ver o Napoleão na miséria e a linguagem que ele usava
Vai agora ter com ele, ele chama-te, não podes recusar
Quando não tens nada, não tem nada a perder
Estás invisível agora e não tem segredos para esconder.

Sem comentários:

Arquivo do blogue