Ingmar Bergman's Persona - Monólogo da Dra.



    Você acha que não entendo? O sonho impossível de "ser". Não "parecer", mas "ser" você. Consciente o tempo todo. Vigilante. Ao mesmo tempo, o abismo entre o que você é para si e para outros. O sentimento de vertigem e o constante desejo de finalmente ser exposto. Ser visto por dentro, cortado, talvez até aniquilado. Cada tom de voz uma mentira, cada gesto uma falsidade, cada sorriso uma tristeza. Cometer suicídio? Oh, não. Isso é feio. Não se faz isso. Mas você pode tornar-se imóvel, você pode ficar calada. Assim pelo menos não mente. Você pode se fechar, se trancar. Assim não tem que interpretar papéis, fazer caras ou falsos gestos. Você acha... Mas veja, a realidade não coopera. O seu esconderijo não é impermeável. A vida penetra em tudo. Você é forçada a reagir. Ninguém pergunta se é real ou irreal, se é verdade ou mentira. Apenas no teatro a questão carrega peso. Mesmo lá, difícilmente. Eu te entendo, Elisabet. Eu entendo o ficar calada, você é imóvel. Que você colocou essa falta de vontade num sistema fantástico. Eu te entendo e te admiro. Eu acho que você deveria manter esse papel até que ele seja descartado. Até que não seja mais interessante. Aí você pode deixá-lo. Assim como você, pouco a pouco, deixa todos os outros papéis.

    Sou ou não sou? Represento que papeis? É possível viver sem representar? Que cortinas vou abrindo e fechando? Afasto-me de mim quando uso as máscaras adequadas nos palcos da poesia, da música, da politica, religião, família, profissão. Para ser eu, calo-me como Elisabet.  

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