Ernesto Lara Filho - Poema da manhã



Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer as ambições estampadas
nos olhos claros.

Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer a vida à flor da pele escura.

Os nossos filhos
Negra
hão-de gargalhar o seu desprezo pelas Universidades da Europa
e hão-de rir-se dos que ficarem atrás nas classificações.

Os nossos filhos
Negra
hão-de ser belos
hão-de trazer nas veias o sangue mais puro e mais vermelho
das raças de Angola
e os seus peitos
hão-de chegar primeiro nas competições desportivas
da América, da Europa e do Mundo.

Os nossos filhos
Negra
serão os construtores, os engenheiros, os médicos, os cientistas do Mundo que vem

Eles pisarão quem se lhes atravessar na frente
Eles hão-de fazer soar os "Boogie-woogies" de Armstrong e Peters
nas "boites" de Paris, Londres, Moscovo e Nova Iorque
e não mais terão lugares secundários nas bichas de autocarros de Joanesburgo.

E principalmente
Negra
eles serão
Os nossos filhos.

    O racismo é desumano. Terá a raça negra razões para escrever textos como este? Bem cedo, o tempo tudo apagará.

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