Héctor Rojas Herazo

Pela minha voz endurecida como uma velha ferida;
pela luz que revela e destrói o meu rosto;
pelo marulhar de uma solidão mais antiga que Deus;
por mim atrás e à frente;
por um ramo de avós que reunidos me pesam;
pelo defunto que dorme na minha costela esquerda
e pelo cão que lhe lambe as faces;
pelo uivo da minha mãe
quando molhei as suas coxas com um vómito escuro;
pelos meus olhos culpados de tudo o que existe;
pela deleitosa tortura da minha saliva
quando apalpo a terra digerida no meu sangue;
por saber que me apodreço.
Ama-me.


 "Ama-me" esse limite da solidão.

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