Estimados compatriotas:
Acerca do filho-da-puta, como acerca
de muitas outras coisas, correm neste país as mais variadas lendas. Há até quem
seja de opinião de que o filho-da-puta a bem-dizer nunca existiu, dado que ele
é apenas um modo de mal-dizer. Nada, porém, mais falso. É certo que o
filho-da-puta às vezes não passa de um modo de dizer, mas não bastará a simples
existência, particular e pública, de tão variados retratos seus, para arrumar
com as dúvidas acerca da sua existência real? Pois quem teria imaginação
suficiente para inventar tantas e tais variedades de filho-da-puta, caso ele
não existisse? Não! O filho-da-puta existe. Em todos os lugares, excepto no
dicionário. No dicionário existem variados filhos, entre eles o filho-família,
o filhastro e o filhote, mas não existe o filho-da-puta. Em compensação, o
filho-da-puta existe em todos os outros lugares. Claro que há lugares que ele
de preferência ocupa e onde por conseguinte é mais frequente encontrá-lo; no
entanto, exceptuando, como ficou dito, o dicionário, não há lugar onde,
procurando bem, não se encontre pelo menos um filho-da-puta.
in, Discurso Sobre o Filho-da-Puta
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