Sei é que houve um tempo em que vivi completamente
submergido pelas culpabilidades que me puseram nos ombros logo que nasci e não
estou inteiramente certo de que me tenha libertado delas. Foi a pouco e pouco
que comecei a compreender que os meus pecados eram tão normais e desinteressantes
como os do comum dos mortais e que muitos desses pecados foram experiências
fabulosas que tornaram a minha vida mais rica, mais interessante e mais
divertida. Eu hoje acho que tenho a normal fragilidade da condição humana mas
por isso não me acho um pecador. A certa altura descobri que andar à volta do
perdão dos pecados era uma maneira de agravar as nossas culpabilidades: quanto
mais as pessoas se arrependem e se confessam mais se sentem presas desse
círculo vicioso de se ajoelhar e levantar aos pés do poder divino, num vaivém
eterno entre o pecado e o perdão que lhes tira o tempo todo, até para praticar
o bem. Sair daí é a única maneira de assumir a consciência da nossa liberdade,
das nossas responsabilidades para connosco e para com os outros. Mas, será
possível a gente libertar-se inteiramente da culpa? Eu não sei por que caminhos
subtis passam hoje as minhas culpabilidades.
in, O Riso
de Deus
"Vai e não voltes a pecar!" - dizem eles.
"Vai e não voltes a pecar!" - dizem eles.
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