Cada poema faz esquecer o anterior,
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco multiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é estranho.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Não, reúne a plenitude anterior.
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