Nada é tão necessário a um homem como um pedaço de mar
e uma margem de esperança para lá da morte,
é tudo do que necessito, e talvez um par de asas
abertas no capítulo primeiro da carne.
Não sei como dizê-lo, com que cara
trocar-me por um anjo dos de antes da terra,
partiram-se-me os braços de tanto lhes dar corda,
diz-me o que farei agora, diz-me que horas são e se ainda há tempo,
é preciso que suba para me mudar, que me arrependa sem perder uma lágrima,
uma só, uma lágrima orfã,
por favor, diz-me que hora é a das lágrimas,
sobre tudo a das lágrimas sem mais nem más que choro
e choro todavia e para sempre.
Nada é tão necessário ao homem com um par de lágrimas
a ponto de cair no desespero.
Blas de Otero era natural de Bilbau, País Basco.
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