Inquieta-me a lucidez de certas horas.
Como te contar? Tudo nelas é perfeito,
e claro, e inabalável... Até a dor!
A acomodação à realidade
põe-se a subir sorrateira pelo corpo
dos sonhos e dos desejos. Mata-os!
É perigoso viver desarmado
na lucidez das horas.
Quando menos se espera, morre-se!
Quero a minha lanterna sempre acesa,
Entrar com ela no inexprimível sossego
que precede a tempestade;
Escutar o respirar aflito do mundo
entre dois trovões, duas guerras, dois gritos,
separados apenas por um fio;
Um espaço impreciso, o fio, entre o um e o dois,
Espaço a que, só por ignorância,
chamamos silêncio.
A tela é de Federico Zandomeneghi.
A tela é de Federico Zandomeneghi.
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