Natércia Salgado Dinis

Eram lindos meus brincos de criança!
Tão lindos que me vêm à lembrança
Como a recordação mais valiosa
Que era pertença minha – o meu tesouro!
Com pedrinhas de cor, todos em ouro,
Do feitio singelo duma rosa.

Presente do padrinho e da madrinha
Que os pretendiam ver, quando à tardinha
Vinham os dois, felizes, para o chá,
Ao beijarem-me, ternos, carinhosos
Miravam-me as orelhas, curiosos,
P’ra verem se eu ainda os tinha lá…


De vez em quando iam a limpar.
Pensando nunca mais os ver chegar,
Meu coração, de medo, estremecia.
Que dia longo como a eternidade!
Quantas horas de espera e de ansiedade!
- Sem eles não brincava nem sorria…

Ao voltarem, depois, à minha mão

Brilhantes como o sol em pleno verão,
Sentia-me outra vez toda
contente.

Como pode na vida um quase nada
Toldar de sombras essa madrugada
Que é o florescer da infância em toda a gente?

Perdi-os para sempre, anos volvidos.
Lá se foram os sonhos coloridos
A que esse par de brincos deu ensejo!
Eram as duas rosas de um jardim
Que vicejava então dentro de mim
E que o tempo levou no seu cortejo.

    Natércia Dinis é uma poetisa que viveu na minha aldeia, Canas de Santa Maria, Tondela. Nasceu a 10 de Janeiro de 1911 em Fermelã, freguesia do concelho de Estarreja. Desde o casamento, passou a viver em Viseu e em Canas de Santa Maria, terra natal do marido. Faleceu em 17 de Fevereiro de 1996. O poema é simples, com rima delicada, sobre o que fica para sempre num cantinho do coração.

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