O Estrangeiro

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'Maria veio buscar-me à noite e perguntou-me se eu queria casar com ela. Respondi que tanto me fazia, mas que se ela de facto queria casar, estava bem. Quis então saber se eu gostava dela. Respondi, como aliás respondera já uma vez, que isso nada queria dizer, mas que julgava não a amar. 'Nesse caso, porquê casar comigo?', disse ela. Respondi que isso não tinha importância e que, se ela quisesse, nos podíamos casar. Era ela, aliás, quem o perguntava, e eu contentava-me em dizer que sim. Maria observou então que o casamento era uma coisa muito séria. Respondi: 'Não'. Maria calou-se durante uns instantes e olhou-me em silêncio. Depois, falou. Queria simplesmente saber se, vinda de outra mulher com a qual estivesse relacionado do mesmo modo, eu teria aceite uma proposta semelhante. Respondi: 'Possivelmente'. Perguntou então de si para si se gostaria de mim, mas sobre esse ponto, como poderia eu saber alguma coisa? Depois de uns instantes de silêncio, murmurou que eu era uma pessoas estranha, que gostava de mim se calhar por isso mesmo, mas que um dia, pelos mesmos motivos, era capaz de passar aos sentimentos contrários. Como eu me calasse, por não ter nada a acrescentar, tomou-me o braço a sorrir e declarou que queria casar comigo. Respondi que sim, desde que ela quisesse. Falei-lhe então na proposta do chefe e Maria disse-me que gostaria de conhecer Paris. Contei-lhe que lá vivera durante algum tempo e ela perguntou-me como era a cidade. Respondi: 'É suja. Há pombas e pátios escuros. As pessoas têm a pele muito branca.'

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Albert Camus, in O Estrangeiro, trad. António Quadros

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A' segundo Duras

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A jovem Marguerite Duras
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'Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada.
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Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias.
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Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
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Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fossemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.'
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Marguerite Duras
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La Fête - Rodrigo Leão

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Viens, fais la fête!
Viens danser toujours!
Célébrer l'amour!
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Sèche tes larmes.
Regarde autour de toi,
Souris à n'importe quoi!
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Il faut toucher les choses!
Bois ton vin!
Sent tes roses!
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Suis les mots du poète:
Prends la vie,
Fais la fête!
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Viens, vis la valse,
Vis l'éclat des jours,
Viens chanter l'amour!
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Ouvre tes portes,
Reçois la vie chez toi!
Gonfle ton cœur de joie!
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Il faut toucher les choses!
Bois ton vin!
Sent tes roses!
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Suis les mots du poète:
Prends la vie,
Fais la fête!
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Daniel,13 - A história de Susana

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Sebastiano Ricci
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Annibale Carracci
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Joseph-Marie Vien
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O livro de Daniel,13 conta-nos a história de uma judia acusada injustamente de promiscuidade. De nome Susana, era rica, muito bela e temente a Deus. Certa tarde, enquanto tomava banho nua nas águas do jardim da sua casa, e tendo dispensado as suas leais damas-de-companhia, dois anciãos libidinosos observam-na secretamente. Os portões do jardim tinham sido fechados.
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Surpreendida com a presença dos dois homens e com o manifesto desejo deles pelo seu corpo, recusou-os. Então, os portões abriram-se e os anciãos difamaram-na ao marido, por vingança. 'Ela estava com um homem e pecou com ele!' disseram.
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Reunida a Assembleia do Povo, Susana foi condenada à morte. Só que de súbito, olhou o céu, implorou a Deus e Ele ouviu a sua oração. No fim da tarde, quando era levada para a morte, o Senhor salvou-a ao activar a Justiça num rapaz de nome Daniel.
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E Daniel pediu à Assembleia 'Colocai os dois um bem distante do outro, que vou julgá-los'. Assim, depois de terem isolado um do outro, Daniel falou com o primeiro 'Ó homem envelhecido na malícia, os teus pecados vão aparecer agora; pois, se viste mesmo, dize debaixo de qual árvore viste?' Ele respondeu 'Debaixo de uma aroeira.'
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Daniel fez vir o outro e disse-lhe 'Geração de Canaã, não de Judá! A beleza feminina desnorteou-te, a paixão fez-te perder a cabeça. Era assim que fazíeis com as mulheres de Israel e elas, como medo, entregavam-se aos vossos desejos, mas esta filha de Judá resistiu às vossas indecências! Dize-me, então, debaixo de que árvore apanhaste os dois entretendo-se?' Ele respondeu 'Debaixo de um carvalho'.
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O acontecido estava provado pelas próprias bocas. Toda a multidão começou a aclamar e dar louvores a Deus, que salva os que nele confiam. De seguida, fizeram aos dois, o que antes queriam fazer a Susana. E Daniel tornou-se grande diante do povo.
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Phil Ochs
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Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem
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Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
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Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
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Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são sítios desviados
Do lugar.
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Poema de Daniel Faria
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À espera do equinócio de Março

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Imagens Pixdaus
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São apenas imagens com os 4 elementos passivos. É o defeito das imagens. Falta-lhes o oxigénio, o perfume, a luz natural, o orvalho fresco que activam directamente em nós a transcendência. São memória limitada. O nosso mundo está cheio de imagens.
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A máquina para baixar as estrelas

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O telescópio Kepler tem vindo a fazer o recenseamento geral da Via Láctea. Até agora, foram descobertos 1.235 planetas, dos quais 54 terão órbita semelhante à do nosso planeta azul. A vasta recolha de informação permite aos responsáveis da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência - AAAS afirmar, que podem existir cerca de 500 milhões de planetas com condições para terem vida, no Universo até agora conhecido. 50 milhões de planetas só na Via Láctea.
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Ao mesmo tempo, outro telescópio espacial, o Fermi, especializado na observação de raios gama, detectou feixes de antimatéria produzidos acima das tempestades da Terra, fenómeno nunca antes visto. Recorde-se que a antimatéria está prevista ser a forma de energia do futuro. Li ou ouvi algures, que um grão de sal de antimatéria terá energia suficiente para nos levar além do Sistema Solar. Hoje, estima-se que cerca de 500 TGF - Flashes de Raios Gama Terrestres, ocorram diariamente em todo o mundo. É o futuro. A globalização de que tanto falamos parece ser apenas a primeira.
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Escola

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Pintura de Ambertale
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. .......The Beatles - The Inner Light .

O Pátio dos Gentios

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O Papa Bento XVI sugere que a Igreja crie uma espécie de 'Pátio dos Gentios', um lugar no qual os homens não crentes possam entrar em contacto com Deus 'mesmo sem o conhecer o Seu mistério'. No tempo de Jesus e dos apóstolos, o recinto que circundava o Templo de Jerusalém estava dividido em vários pátios que reflectiam, em parte, a própria organização social da Palestina. O maior era o dos gentios. Estava separado do Templo e dos outros pátios por uma balaustrada com inscrições, proibindo a passagem para o interior, sob pena de morte. Cinco degraus acima, havia o pátio das mulheres e, ainda mais acima, havia o pátio de Israel ou dos homens. Deste, passava-se para o dos sacerdotes.
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Frei Bento Domingues
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Annika - Johnny I Hardly Knew Ye

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While goin' the road to sweet Athy, hurroo, hurroo
Goin' the road to sweet Athy, hurroo, hurroo
Goin' the road to sweet Athy
A stick in me hand and a tear in me eye
A doleful damsel I heard cry,
Johnny I hardly knew ye.
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With your drums and guns and guns and drums, hurroo, hurroo
With your drums and guns and guns and drums, hurroo, hurroo
With your drums and guns and guns and drums
The enemy nearly slew ye
Oh my darling dear, Ye look so queer
Johnny I hardly knew ye.
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Where are your legs that used to run, hurroo, hurroo
Where are your legs that used to run, hurroo, hurroo
Where are your legs that used to run
When you went to carry a gun
Indeed your dancing days are done
Oh Johnny, I hardly knew ye.

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Nota: 'Johnny I Hardly Knew Ye' é uma melodia folk que pertence à cultura Irlandesa. É uma 'anti-war song' que data do começo do século XIX, do tempo em que os soldados irlandeses ajudavam as tropas da British East India Company. A Wikipédia acrescenta 'The original refers to the soldiers from Athy, County Kildare that fought in 'Sulloon' (Ceylon - present day Sri Lanka) for the East India Company in what history knows as the Kandyan Wars.' É de referir também, a simplicidade de harmonizações vocais que a melodia permite.

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9

Que faremos contra
a eficaz maquinaria dos poderosos?
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apenas isto e aquilo
o suficiente para que o dia acabe tranquilo
e a vida termine na sombra
pequeno bando de rapazes suburbanos sem voz
ilusoriamente à margem da ordem social
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vou ao 4º esquerdo toco à campainha e depois fujo
ou fujo ou fico estático com ar alucinado e quando
me abrirem a porta em sobressalto
digo que me enganei no andar dói-me a criança
de choro contínuo e não quero que cresça num corpo de homem
de voz grave e mãos feridas vou tocar à campainha
até que um pormenor daquela história se altere e depois
subo exactamente vinte e oito degraus
informo o escritor misterioso da inevitável alteração
na narrativa e ele responde-me que ainda assim
cabemos todos nas páginas do seu compêndio.
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Paulo Tavares in, Linhas de Hartman, & etc.
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Nota: Das lutas e revoluções resta a 'pulp fiction' e o medo. O número 28 representará o ciclo de fertilidade feminina? Óvulos por fecundar, dos quais surgirão heróis reais.
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Imitation of Life

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Desde o final do século XIX, na Europa, alguns dos autores infantis vinham a questionar o teor das histórias infantis: pregavam que deveriam ser menos violentas e apresentar personagens mais criativas - já que as velhas figuras dos contos de fadas tinham-se tornado desinteressantes. Defendiam, ainda, que a função dessa literatura era divertir e entreter - não moralizar; esse papel cabia à família e à escola. A esta corrente adere o americano Lyman Frank Baum que em maio de 1900 escreve O Feiticeiro de Oz.

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'Seguindo juntos, encontram um homem todo feito de lata, que segurava um machado enferrujado e vivia próximo de uma cabana. Anos antes, ele tinha sido um homem como os outros, o lenhador Tim Woodmane, mas após um feitiço que lhe fora lançado por uma bruxa, ele perdeu todos os membros do corpo em acidentes relacionados com o seu trabalho - tendo cada parte do corpo sido substituída por outra feita de lata, por um amigo. Após lubrificarem as juntas enferrujadas do novo amigo, este seguiu junto aos três pela estrada amarela, pois tencionava obter na Terra de Oz um coração de verdade para si.'

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in, Imitation of Life & Wikipédia

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Ageless

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A antiga sombra das palavras em flor ensinava que amor não tem como causa a solidão, mas o desejo profundo de partilhar o melhor e o mais belo de cada um de nós, na vida.
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Tarde

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O que eu queria dizer-te nesta tarde
Nada tem de comum com as gaivotas.
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Sophia in, No Tempo Dividido
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O homem que contempla

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Foto de Carlo Borlenghi
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Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.
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E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.
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Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.
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Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.
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Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.
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Rainer Maria Rilke
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Nota: A foto de Carlo Borlenghi não é manipulada; o momento situa-se no dia 27 de Dezembro de 2010, na Australia, onde se estava a disputar a regata para iates de recreio Sydney-Hobart Yacht Race. 'um dos barcos que entraram na prova, visivel no canto inferior direito, remete-nos para a escala do Homem no teatro da Natureza' in, revista Visão de 30 Dez 10. O poema de Rilke explica melhor.
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A árvore de Castelo Branco

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As palavras

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Vira-as, pega-as pelo rabo (chiai, putas),
açoita-as,
adoça-lhes a boca às reguilas,
enche-as, balões, pica-as,
chupa-lhes sangue e tutano,
seca-as,
capa-as,
pisa-as, galo galante,
torce-lhes o gasganete, cozinheiro,
depena-as,
estripa-as, toiro,
boi, arrasta-as,
fá-las, poeta,
faz que se traguem todas as tuas palavras.
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Octavio Paz
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A função das flores

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Estes 2 momentos são para os que amam a vida e que com a sabedoria de Salomão preservaram nela o sagrado, o amor e a humildade.
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Para A.

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Paul Cézanne: Still Life with Apples

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Os teólogos medievais condenavam a designação 'natureza morta'. Desde a Grécia, que o homem tem feito 'mimésis' dos frutos dos pomares, dos botões de flor, das suas obras em barro, vidro ou latão guiado pelo génio criador. A maçã da árvore proibida, uma vez comida no velho Jardim, sempre esteve presente. Note-se como o prato desta tela de Cézanne está em desequilíbrio e como o fumo da lareira lhe passa ao lado. Foi do meio do fogo que não se vê, esquecendo-o, que Stephan Hawking proferiu 'Hoje, a Humanidade pode finalmente explicar o Universo sem Deus'. Há maçãs melhores, esta não leu Teilhard de Chardin.
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La Complainte du Partisan

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Nota: A canção foi escrita em Londres, em 1943. Os versos são de Emmanuel D'Astier de la Vigerie e a melodia de Anna Marly, que sobreviveram às bombas alemãs. No ano de 69, Leonard Cohen deu-lhe uma nova vida e um pouco mais tarde, Joan Baez fez esta versão que se esconde no LP 'Come From the Shadows'. Quando a ouço, espero ansioso pela última estrofe em grego dedicada a Mélina Mercouri.
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O Museu da Tolerância e Dignidade Humana em Jerusalém

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A informação de que disponho é a que li no jornal Público de 2 de Janeiro de 2011. O projecto é promovido pelo Centro Simon Wiesenthal e tem como finalidade, tudo o que o seu nome aponta. 'A forma longitudinal no sentido nascente-poente é uma clara alusão à união entre o Ocidente e o Oriente'. Parcialmente suportado por donativos de todo o mundo, será inaugurado em 2013. É um edifício muito bonito.
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Cantigas de Santa Maria - LXXVII

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Da que Deus mmamou o leite do seu peito non e maravillia de saar contreito. Desto fez Santa Maria miragre fremoso ena sa ygrej en Lugo, grand'e piadoso por hua moller que avita tolleito o mais de seu corp'e de mal encolleito. O bispo e toda a gente deant'estando veend'asquest'e oynd'e de rijo chorando viron que miragre foi e non trasgeito porende loaron a Vigren a feito.
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Nota: O texto está escrito em Galaico-português e faz parte do poema 77 das Cantigas de Santa Maria. Digo 'faz parte', porque o original é composto por muitas mais estrofes. Os versos narram a história de uma mulher paralítica, que foi orar para a Igreja de Lugo e se manteve em vigília, até que ficou curada no dia maior da festa à Virgem.
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Domenichino Zampieri - A ascensão de Maria Madalena ao céu

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Esta tela é uma das obras primas do Barroco. É um exemplo de como a imaginação e a sensibilidade humana interagem na arte e na manipulação do sagrado. O tema é o da mulher pecadora que serviu, amou e sabia tudo sobre Jesus Cristo. A pintura intrigou-me quando os olhos pararam no chicote de tiras que um dos anjos empunha. É ele que cria a primeira tensão. Depois, a mulher loura vestida de vermelho, que segura na mão direita o casaco das trevas e olha para nós, apontando o bom exemplo da regeneração. Outros motivos: as duas pombas, a renovação do verde na natureza, o nó górdio nos peitos, a vasilha de perfume.
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Parábolas

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As parábolas de Jesus constituem o aspecto mais original da Sua pregação. Na história cristã, elas representam o modelo de discurso religioso acerca de Deus, o qual respeita a Sua transcendência, não se podendo falar d'Ele mais do que por imagens e metáforas. A sua capacidade de se referirem a seja o que for é o que explica que possam ser continuadamente actualizadas. Apesar de serem acessíveis a todos, as parábolas situam-se também ao nível elevado dos eleitos que tiram delas o sentido mais profundo.
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Giovanni Filoramo
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Que parva que eu sou - Deolinda

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Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
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Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
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Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
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Música e letra: Pedro da Silva Martins
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Nota: Outra vez as 'Logical Song', 'Little Boxes', 'Another Brick in the Wall'. Só que os Deolinda não atacam o sistema de ensino, mas o sistema politico e económico. A 'Geração dos 500 Euros' é formada por universitários, a quem os pais e o país tudo pediram, para nada. Esta canção reflecte sobre um pesadelo social.
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Se Deus se concretizasse em Verdade

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Se Deus se concretizasse em Verdade seria para o homem uma nova ditadura - a da Certeza. Cada um de nós desactivaria a procura e encurtaríamos de tal modo a distancia entre fé e credo, que o Sagrado seria mais uma rotina. É bom que Deus se esconda.
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