Aqui reside a diferença entre desejar e querer. Querer é mais vasto que desejar. Desejar é mais antigo e primordial. Querer é mais complexo e exigente. Além disso, desejar é passivo e irresponsável - não responde pelas consequências. Querer é activo e assume-as. É por isso, que o desejo pode sobreviver ao querer quando este já se declarou incapaz. Um indeciso pode manifestar desejos, mas não pode sustentar o querer. Quando quero dirijo-me a circunstâncias exteriores desconhecidas ou aleatórias, tantas vezes rudes e hostis. Quando desejo penso em mim, no máximo em ti. É por isso que uma grande parte dos desejos se esgota antes de poderem ser formulados. E é por isso, mais que não seja por isso, que pelo menos esses, são irrealizáveis. Querer é dizer ao instante vivido: espero-te mais à frente, tenho um projecto que vai até à extremidade do possível. Desejar é dizer-lhe: fiquemos por aqui, nesta espécie de 'relâmpago íntimo' (F. Pessoa).
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Fernando Gandra in, O Sossego como Problema
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