Se
ouvires correr a água nas levadas,
o seu
sono manso passar entre musgos e penumbras,
apagado
o som de algo
que
tende a demorar-se na sombra vegetal.
Se
tiveres a sorte e guardares esse instante
com
a tremura incessante dos fetos,
com
o limo atónito a debater-se
no
leito imutável e sempre em viagem.
Se
tiveres a paciência do seixo,
a sua
voz quieta, o seu tom sem arestas,
e
aguardares a chegada da luz,
é
bom que saibas que ali te vão chamar
com
um nome jamais antes pronunciado.
Toda
a difícil harmonia do mundo
é
provável que te seja então revelada,
mas
só dessa vez.
Saberás,
acaso, decifrá-la no rumor da água
que
sem remédio se evade, para sempre?
Original:
Si
oyes correr el agua en las acequias,
su
manso sueño pasar entre penumbras y musgos,
con
el apagado sonido de algo
que
tiende a demorarse en la sombra vegetal.
Si
tienes suerte y preservas ese instante
con
el temblor de los helechos que no cesa,
con
el atónito limo que se debate
en el cauce inmutable y siempre en
viaje.
Si
tienes la paciencia del guijarro,
su
voz callada, su gris acento sin aristas,
y
aguardas hasta que la luz haga su entrada,
es
bueno que sepas que allí van a llamarte
con
un nombre nunca antes pronunciado.
Toda
la ardua armonía del mundo
es
probable que entonces te sea revelada,
pero
sólo por esa vez.
¿Sabrás,
acaso, descifrarla en el rumor del agua
que
se evade sin remedio y para siempre?
O poema evoca a passagem do tempo e a memória por meio da
imagem da água que corre silenciosa. As levadas (acequias) funcionam como metáfora do
destino e da persistência da vida, enquanto o eu lírico observa o fluxo
inevitável que leva lembranças e esperanças. A linguagem contida e meditativa
reforça a sensação de melancolia, destacando a relação entre natureza, perda e
contemplação do próprio caminho existencial.

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