Federico García Lorca


Não te conhece o touro ou a figueira
nem cavalos nem formigas de tua casa
Não te conhece o menino ou a tarde
porque tu morreste para sempre.

Não te conhece o lombo da pedra
nem o cetim negro onde tu destroças
Não te conhece a tua lembrança muda
tu morreste para sempre.

O Outono chegará com búzios,
uva de névoa e montes agrupados,
mas ninguém quererá olhar os teus olhos
porque tu morreste para sempre.

Porque tu morreste para sempre,
como todos os mortos que há na Terra,
como todos os mortos que se esquecem,
num monte enorme de cães apagados.

Não te conhece ninguém. Não. porém, eu canto-te.
Canto para depois teu perfil e tua graça.
A madurez insigne do teu conhecimento.
O teu apetite de morte e o gosto da tua boca.
A tristeza que teve a tua alegria valente.

Tardará muito tempo a nascer, se nascer,
um andaluz tão claro, tão rico de aventura.
Canto a tua elegância com palavras que gemem
e lembro uma brisa triste entre as oliveiras.

in, Llanto por Ignacio Sánchez Mejías


Além de toureiro e matador, Ignacio Sanchez abrange outros domínios das artes e da cultura, desde logo, atendendo ao seu papel de mecenas de uma vanguarda cultural na Espanha do século XX, conhecida como Geração de 27, que teve o seu fim com a vitória do Franquismo.
Enquanto toureiro foi um seguidor de Joselito «El Gallo». Era raçudo e toureava com risco mas por cima do oponente, buscando a máxima perfeição técnica. Mas Ignácio foi ainda actor, desportista de polo, automobilismo e escritor, inserindo-se a sua obra dramática na corrente do teatro psicanalítico. Em suma, uma figura da cultura de Espanha do primeiro terço do século XX.  In, Wikipédia

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