Rui A. - Dos tempos nossos


Quando eu era rapaz novo
acreditava que dos teus cabelos jorravam malmequeres,
e sonhava brincar com eles, com os meus dedos.
Nunca verdadeiramente o tentei para lá dos olhos estes
- que fazias mais azuis.

E ainda hoje tenho pena, alguma,
de não termos casado aos doze anos
(eram tão agradáveis, e tantos,
os teus cabelos).
Como agradável era a tua saia as meias brancas e o beijo 
que trocávamos na missa dos escuteiros
(por isso lá ia, pontual e perfumado, acho que explorador júnior),
na hora de nos amarmos uns aos outros.

Lembro que tatuei o início de todos os teus nomes
na mochila da escola
(MICMR – Maria Isabel Costa Moreira Rodrigues)
E dizia que se tratava de um Movimento
Independentista da Costa do Marfim – Reconstruída
Enfim, uma imensa vergonha.

Foste o meu primeiro amor
Descontando a Gigi, claro, que foi para Angola,
e uma miúda que dava gosto à catequese.
E ainda hoje não sei se é isto mistério,
sabe-me a flores
e a oráculo.

Alguma coisa será, penso
como eu.

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