Nuno Júdice

Amei-te nas fotografias obscenas de
um limiar de acasos, quando a tua voz
desmaiava numa eclosão de ecos. E uma
colcha de silêncios tapou a tua nudez; o inútil
flash da madrugada iluminou os teus olhos; e,
de repente, o sol nasceu de uma enseada
de cabelos, e subiu pelas cortinas do quarto;
lentamente, encostaste a curva do teu joelho
à sombra da parede como se ali ficasse,
no vazio do gesso, a cor da tua pele.

in, Fórmulas de uma luz inexplicável

      Aos poemas de Nuno Júdice falta-lhe um pouco mais de simplicidade. Menos palavras. Habitualmente têm uma mancha gráfica muito compacta. Gosto deste. Onde há luz, há sombra.

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